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Sobre se apaixonar por um esporte novo

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Sobre se apaixonar por um esporte novo

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Sidney Crosby com a Stanley Cup na final 2016-17

Apaixonar-se nem sempre é de um dia para o outro. O sentimento vem com o tempo, primeiro as borboletas no estômago, depois o sorriso bobo no rosto e então a descoberta do novo amor e a ansiedade de querer conhecer mais sobre essa nova paixão. Essa foi exatamente a sensação que eu tive quando, trocando de canal em 2015, deparei-me com hockey passando na televisão. Um esporte que tanto me fascinava, mas só tinha contato através de filmes, séries e livros, sem nunca me tocar que existia toda uma liga e times para se apaixonar.

Entenda, nunca fui muito fã de esportes, muitos menos quis entender e acompanhar algum. Quer dizer, isto até o hockey entrar na minha vida. Em pouco tempo me vi completamente viciada em pesquisar um mais sobre a modalidade e seus times. No entanto, para a minha infelicidade, a temporada já estava no fim e eu só poderia de fato começar a acompanhar no início da temporada seguinte. 

Foi exatamente assim que a minha jornada com esse novo esporte começou e o motivo do back-to-back do Pittsburgh Penguins ser tão importante para mim. Naquele ano, eu me vi completamente fascinada por um esporte novo e de uma forma um tanto inusitada. Entretanto, o hockey tem algo que cativa logo de cara, seja pela rapidez do puck no gelo ou até mesmo o amor dos torcedores durante os jogos.

Os playoffs, então, é algo divino. Quando o nosso time está no gelo, tudo que mais desejamos é estar conectado, assistindo, especialmente quando estamos ganhando. Lembro que no início não foi fácil aprender um novo esporte, principalmente quando levamos em consideração a barreira da linguagem. Mas nada nos impede de estarmos sentados em frente à televisão tentando entender aquele bando de regras e o porque do juiz não separar aqueles jogadores brigando no meio do jogo.

A descoberta do novo amor

Em meio à correria da vida adulta, fui aprendendo mais e me apaixonando mais. Na temporada 2015-16, vi-me nervosa acompanhando a saga dos Penguins rumo à vitória da Stanley Cup 2016. O caminho não foi fácil, o time teve um início de altos e baixos naquela temporada. Ao final de 2015, haviam conquistado somente 40 pontos em 37 jogos, foram 18 vitórias contra as 15 derrotas. 

Ainda assim, os Penguins não se deram por vencidos e, com o novo ano veio uma nova esperança. As vitórias que anteriormente iam caindo voltaram a crescer e a esperança desta fã em acompanhar a sua primeira temporada regular também. Por fim, o time finalizou a temporada com 104 pontos e 48 vitórias, assim permanecendo em quarto lugar geral na Liga.

Novamente me vi perdida. Os jogos não aconteceriam mais da maneira que eu estava acostumada, e imaginem a minha surpresa ao descobrir que o time agora precisava vencer rounds (além dos jogos é claro).

Logo de cara enfrentamos o New York Rangers. Não que eu entendesse muito o que estava acontecendo, mas segundo os comentários, aquele era um antigo rival nessa fase. Com apenas cinco jogos, a tão sonhada vitória veio e assim avançamos para a próxima rodada. 

O que não foi tão fácil assim. Em cada novo round que entrava, a batalha se tornava mais difícil, mas não impossível. Assim, o time eliminou equipes de peso como o Washington Capitals e Tampa Bay Lightning. Mal sabia eu que a caminhada ainda não tinha acabado.

Como último oponente a equipe de Pittsburgh enfrentaria o San Jose Sharks. O time da Califórnia também vinha de uma boa temporada e uma caminhada árdua. As equipes não estavam para brincadeira e o show no gelo foi simplesmente incrível. A briga pela Stanley Cup estava acirrada e eu fiquei completamente fascinada. Se não bastasse dois overtimes durante aquela série final, foram necessários passar por seis jogos, e a cada novo jogo a energia parecia mais forte. 

No entanto, todos esses momentos valem a pena quando enfim chega a tão esperada noite. Aquela que todo fã deseja e todo jogador sonha, a noite em que mostra que todos aqueles meses treinando e todo aquele esforço não foi em vão: a noite de levantar a Stanley Cup. 

Naquele 12 de junho de 2016, o time de Pittsburgh estava longe de casa, cercado por fãs do seu adversário e com a certeza que aquela poderia ser a grande noite. Era o sexto jogo e eles vinham de uma vitória em casa, que deixava eles a um passo de serem campeões.

Os Pens abriram o placar ainda no primeiro período, garantindo uma vantagem que logo seria retirada pelas mãos de Logan Couture. No entanto, bastou um passe do capitão Sidney Crosby para o defensor Kris Letang para que a vantagem voltasse para as mãos do visitante. 

Pouco depois foi a vez do sueco Patric Hörnqvist, novamente com uma assistência de Crosby, cimentar o futuro dos Penguins e garantir a vitória. Acho que nunca vou esquecer a alegria no rosto dos jogadores naquele Jogo 6, a energia naquela arena, os fãs vibrando e as famílias entrando no rink pra comemorar. Entretanto, essa noite não consegue se comparar ao ano seguinte quando enfim entendendo o esporte pude acompanhar a temporada inteira. 

O ano em que tudo virou mágica

A temporada 2016-17, essa sim foi uma temporada mágica, enfim o prazer de assistir a uma partida e conseguir entender tudo que estava acontecendo. De brigar com a televisão quando o gol do meu time era contestado e até mesmo xingar o técnico quando discordava do empty net. Em meio a hat tricks, que nem eram do meu time mas me dava vontade de jogar um chapéu no gelo, e comemorações de gols, os playoffs estavam cada vez mais perto. Nada se comparava a energia da corrida pela tão desejada Stanley Cup. 

Os jogos eram eletrizantes. Devo confessar que a vontade de não perder nenhuma partida era tanta que eu contei uma mentira ou cem para sair mais cedo das minhas aulas. O gás da temporada anterior ainda refletia no início desta temporada, os Penguins terminaram o ano de 2016 com 25 vitórias contra apenas 8 derrotas, assim somando 55 pontos. O início de 2017 também foi bastante satisfatório para o time que terminou a temporada regular em segundo lugar na NHL com 50 vitórias e 111 pontos. 

Novamente a equipe se viu num caminho árduo para a vitória. Os playoffs, assim como no ano anterior, foram de lutas com o time dando duro para avançar entre os rounds. Enquanto no primeiro enfrentaram o Columbus Blue Jackets e jogaram apenas cinco jogos, o round seguinte não foi tão simples assim, enfrentando um oponente forte e o primeiro da NHL na temporada regular. O Washington Capitals fez o time de Pittsburgh suar em sete jogos, levando os fãs à loucura numa série espetacular. 

Correr para casa vigiando o placar de jogo era algo que nunca imaginei fazer na vida, mas na série seguinte lá estava eu desesperada em mais um round eletrizante de sete partidas e muita emoção.

A final da conferência contra o Ottawa Senators não foi fácil, e o time canandense lutou bravamente tentando garantir a sua vaga na final. O Jogo 7 com certeza não foi para os fracos de coração. Foram necessários dois períodos até Chris Kunitz balançar a rede e abrir o placar para Pittsburgh. No entanto, a alegria durou pouco quando menos de um minuto depois Mark Stone marcou pelo Senators e empatou o jogo.  

Com os ânimos a mil, a partida ficou mais acirrada no terceiro período, quando Justin Schultz abriu uma vantagem para os Penguins e Ryan Dzingel empatou novamente o jogo. Sem novos gols e com a partida empatada, não restou outra alternativa a não ser ir para o tão temido overtime. Aqui devo fazer outra confissão, como fã eu simplesmente odeio este momento, juro que sinto até um frio na barriga. 

Quanto mais dura o OT, mais eu prendo a respiração com medo de ver o meu time perder. Nesse dia em especial, o nervosismo foia ainda maior. O jogo já estava acirrado e já tinha bastante expectativa, afinal o vencedor sairia campeão de conferência e finalista do campeonato. Por isso, foi nescessário não somente uma prorrogação, mas sim duas. Quando por fim Crosby fez um passe para Kunitz que mandou o puck direto pro gol, a arena foi a loucura. Naquela noite, os Penguins se viam a um passo de levantar a taça pelo segundo ano consecutivo. 

A final que consagrou o back-to-back

A final foi de muita expectativa: de um lado o campeão da última temporada e do outro o Nashville Predators que não iam para uma final há 19 anos. O round começou bem para os Penguins, que ganharam os primeiros jogos em casa. No entanto, a sorte pareceu mudar quando o time de Nashville ganhou os dois jogos seguintes também em sua casa dando o gás necessário para a briga pelo campeonato.

O que eles não contavam era que no quinto jogo Matt Murray mostrasse todo o seu potencial ao não deixar um único puck passar pela rede. Enquanto isso, para a infelicidade dos Predators, o puck balançou a rede seis vezes do outro lado, deixando o time de Pittsburgh novamente a um passo da taça.

No entanto, tudo se resume àquela noite mágica e tão aguardada, a noite em que tudo valeria a pena. O último jogo não foi fácil, o time de Nashville tinha a vantagem de estar em casa e eles definitivamente não queriam perder. Justamente por isso não facilitaram nem um pouco, mas nada podia parar Pittsburgh.

O time visitante tinha garra, não que o outro time não tivesse, mas tinha algo de especial em torno do elenco dos Penguins naquela noite. Eles mostraram que não estavam para brincadeira, com um gol de Hornqvist no final do terceiro período e de Carl Hagelin em um empty net. O time de Pittsburgh conseguiu a sua segunda vitória consecutiva assim, dando a chance de Sidney Crosby levantar a sua terceira Stanley Cup na carreira. 

Eu posso ter derramado uma lágrima ou duas, mal sabia eu que aquele seria o primeiro de muitos momentos em que esse esporte me emocionaria. No ano seguinte, eles foram eliminados durante os playoffs, mas ainda assim foi emocionante ver o momento em que Alex Ovechkin levantou a taça pela primeira vez em sua carreira.

Ali eu pude enfim perceber que, para mim, o hockey é muito mais do que ver o meu time ganhar ou perder. São esses momentos, em que nos emocionamos mesmo com um time para o qual não torcemos.

Foto: Sports Illustrated

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