O fim da CWHL, a liga feminina canadense de hockey

Calgary Inferno campeão da Clarkson Cup 2019

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O ano de 2019 foi de muitas novidades no hockey feminino e tudo se originou a partir de um único motivo: o fim da CWHL (Canadian Women’s Hockey League)

Fundada em 2007, a liga feminina de hockey no Canadá foi extremamente importante para a modalidade, não somente durante as suas 12 temporadas como também após o seu fim. Durante os anos de atividade, a CWHL passou de liga amadora à segunda liga feminina que pagava um salário as suas jogadoras, a primeira tendo sido a NWHL. Ela quebrou barreiras e ajudou o hockey feminino a chegar mais perto do seu maior objetivo: ganhar espaço e reconhecimento.

No entanto, o caminho para a liga canadense não foi fácil. Apesar da conquista de uma expansão até para a China, a luta era grande e seu fim foi inevitável. Ao todo, 12 times passaram pela CWHL durante suas 12 temporadas. A liga anunciou o seu fim no dia 1º de maio de 2019, deixando um legado e um futuro incerto para o hockey feminino. 

A história da CWHL

Fundada em 2007, a CWHL tinha por objetivo conquistar espaço para o hockey profissional feminino. Infelizmente, as oportunidades não foram muitas e o caminho, nada fácil.

Inicialmente, sem grandes recursos financeiros, a CWHL fez um acordo com as jogadoras: eles pagariam por tudo menos um salário. Ou seja, viagens, equipamentos, aluguel de gelo e qualquer coisa que envolvesse os jogos era bancado pela liga. No entanto, as atletas não receberam para atuar pelas suas equipes.

Assim, sem muito espaço, as jogadoras aceitaram as condições para terem um campeonato para jogar.

Foram anos de ajustes e planejamentos até a liga alcançar o nível em que se encontrava em 2019. Formando parcerias com outras ligas femininas, e até mesmo com alguns times na NHL, a CWHL fez tudo que podia para alcançar o seu objetivo.

Em seu início, a competição pela Clarkson Cup era contra a também extinta WWHL (Western Women’s Hockey League). Cada liga enviava seu time campeão da temporada para a disputa decisiva que durou até 2011, quando a WWHL encerrou as suas atividades. 

Montreal Stars campeão da Clarkson Cup 2009. (Fonte:Reprodução/hockeygods.com)

Na temporada 2010-11, após uma reestruturação, veio a expansão. A primeira foi para fora do Canadá, com o primeiro e único time da liga nos EUA, o Boston Blades. A expansão também resultou em novos times no Canadá e o primeiro draft da liga, realizado somente entre os novos times.

No ano seguinte, a liga conseguiu uma parceria com os times da NHL, o Toronto Maple Leafs e Calgary Flames. Assim, essas franquias passaram a fornecer fundos financeiros para ajudar a manter os times femininos de suas cidades. Foi através desta parceria que o Alberta Honeybadgers trocou de nome e passou a ser o Calgary Inferno. Em 2015, a liga repetiu a parceria, desta vez entre o Montreal Canadiens e o Montreal Stars. Da mesma forma que a equipe de Calgary, o time do Quebec passou a se chamar Les Canadiennes de Montreal. 

Em 2017, outra reviravolta aconteceu e a CWHL deu mais um passo para o seu crescimento. Isso porque a liga fez uma nova expansão, para a China. m os times Kunlun Red Star WIH, em parceria com o Kunlun Red Star da KHL, e o Vanke Rays. A parceria fez muito bem para a CWHL, afinal, foi através dela que a liga teve condições de enfim começar a pagar um salário para as suas jogadoras. Infelizmente esse também foi o início do fim.

Mudanças para a última temporada

A última temporada da CWHL foi bastante movimentada e marcou a última vez em que as jogadoras das seleções canadense e estadunidense participaram de uma liga feminina de hockey profissional.

Antes do início a temporada 2018-19, a liga passou por mudanças. No dia 19 de julho de 2018, a comissária Brenda Andress, que estava à frente da liga desde o seu início, apresentou a sua renúncia. Assim, a ex-jogadora Jayna Hefford foi nomeada comissária interina e passou a comandar a CWHL.

Pouco menos de um mês depois, no dia 3 de agosto, uma nova mudança: as equipes da China se unificaram e foram renomeados para Shenzhen KRS Vanke Rays. Dessa forma, a liga ficou com apenas um time em sua expansão na China e seis times ao total.

Shenzhen KRS Vanke Rays após a unificação dos times (Fonte: Reprodução / sportsnet.ca)

Outra mudança também envolvendo um time de expansão aconteceu poucos dias depois, no dia 20 de agosto. Em razão da criação da NWHL e com ela o Boston Pride, a cidade de Boston passou a ter dois times femininos em duas ligas diferentes. Além disso, as jogadoras do Boston Blades que faziam parte da seleção americana migraram para o Pride.

Assim, a equipe precisou de novas jogadoras. Porém, para evitar problemas, o time da CWHL foi realocado para Worcester, Massachusetts, e renomeado como Worcester Blades. 

Mesmo antes das mudanças da CWHL, o mundo do hockey feminino já vinha sendo movimentado com as jogadoras e ex-jogadoras fazendo uma campanha nas redes sociais, pedindo uma liga unificada. A campanha, que que teve adesão de muitas profissionais da área, tinha a hashtag #OneLeague como forma de apoio.

Última temporada

A temporada final da CWHL teve início no dia 13 de outubro de 2018, com uma partida entre Les Canadiennes e Calgary Inferno. O campeonato seguiria o seu curso normal, uma vez que o encerramento das atividades da liga ainda não havia sido anunciado. 

Na época, a liga contava com seis times: Calgary Inferno, Les Canadiennes, Markham Thunder, Toronto Furies, Shenzhen KRS Vanke Rays e Worcester Blades. Cada time participou de 28 jogos na temporada regular e os quatro melhores classificados puderam disputar a Clarkson Cup. 

Naquela temporada, os Blades não conquistaram nenhuma vitória, enquanto os Vanke Rays empataram na pontuação com os Furies. No entanto, o time de Toronto tinha uma vitória a mais que a equipe chinesa, e garantiu assim a sua vaga nos playoffs. Com o quarto lugar definido, o primeiro, segundo e terceiro lugar respectivamente ficaram por conta do Calgary Inferno, Les Canadiennes e Markham Thunder. 

Desta maneira, o primeiro time da tabela competia contra o quarto time, enquanto o segundo e terceiro disputavaam entre si. Como é comum nas ligas menores durante os playoffs, só havia duas séries, a final e a semifinal. A semifinal era uma série melhor de três, e a final disputada em uma única partida. 

A final foi definida com o time de Calgary e de Montreal vencendo seus oponentes, e ambos conquistando o mesmo placar de 2 a 1 na série. A decisão foi realizada no dia 24 de março de 2019, no Coca-Cola Coliseum, na cidade de Toronto, Canadá.  

Com nomes conhecidos pelo público através das seleções norte-americanas e a forte rivalidade entre os times, a partida marcava a terceira vez em quatros anos que eles se enfrentavam. O confronto se tornou ainda mais aguardado com a promessa de muitas emoções.

O placar da final foi aberto pela atacante Zoe Hickel, do Calgary Inferno. Posteriormente ela também marcou o quarto gol de sua equipe. Além de Hickel, balançaram a rede para o Inferno as jogadoras Brianna Decker, Halli Krzyzaniak e Rebecca Johnston. Ao final da partida, Decker foi premiada como a MVP do jogo.  

Do outro lado, foram dois gols marcados, ambos pelas mãos da artilheira Ann-Sophie Bettez. Infelizmente, os esforços das jogadoras dos Canadiennes não foram suficientes e o time de Calgary venceu a partida por 5 a 2.

Marie-Philip Poulin em seu último ano como capitão do Les Canadiennes. (Fonte: Reprodução/torontoobserver.ca)

Outro nome conhecido do público para a partida era o da capitã do time de Montreal, a MVP da temporada Marie-Philip Poulin. No entanto, a atleta não participou da decisão devido a uma lesão sofrida na partida anterior. 

Por fim, apenas alguns dias depois, em 31 de março de 2019, a diretoria da CWHL anunciou o fim de suas atividades. O motivo alegado foi por falta de recursos financeiros. Segundo a Liga, a divisão dos patrocinadores entre as duas ligas profissionais femininas afetou financeiramente a CWHL. Esta vinha contando com o apoio na parceria com os times chineses para manter a liga  nas últimas temporadas.

Influência no hockey feminino

O fim da CWHL influenciou de diversas maneiras o mundo do hockey feminino. Apesar de contar com uma liga a menos hoje, de certa forma, a modalidade ganhou mais visibilidade e espaço no esporte.

Com o fim da CWHL, as jogadoras passaram a ter apenas a NWHL como opção para praticar o esporte na América do Norte de maneira profissional. Entretanto, ganhar um salário não significa especificamente ganhar um bom salário e ter boas condições de trabalho.

Apesar da liga estadunidense ter sido a pioneira nessa questão, ela ainda não possui os mesmos recursos que outras maiores possuem. O patrocínio ainda é pouco, bem como as oportunidades. Dessa forma, diversas jogadoras da CWHL e da NWHL se uniram e criaram a PWHPA.

A associação busca melhores condições de trabalho e mais reconhecimento para a modalidade feminina. Com isso, elas começaram ainda em 2019 o Dream Gap Tour, turnê que passa pelos estados norte-americanos promovendo o esporte. Assim, elas conseguiram alcançar feitos ainda inéditos como participar do All-Star Weekend da NHL.

No ano de 2020, a PWHPA ainda entrou para a história do hockey feminino ao conquistar um patrocínio de um milhão de dólares, o maior investimento na modalidade já realizado no continente.

A NWHL também não ficou para trás. Apesar de ainda ter pouco patrocínio, a liga realizou a sua primeira expansão para o Canadá com o Toronto Six. Além disso, ela também conquistou mais espaço no esporte na busca pelo reconhecimento e oportunidades. Entretanto, essas conquistas ainda são pequenas para o hockey feminino.

A luta por melhores condições de trabalho e valorização da modalidade, que na Olímpiada de 2018 foi uma das competições de maior destaque, está apenas no início de um longo percurso a ser cumprido.  

Fonte: Reprodução/chatnewstoday.ca